Um filho mais que esperado - Relato de Parto nos USA
- Arianda Braga Cardoso
- Aug 30, 2017
- 5 min read
Nosso André não foi planejado. Ele foi mais do que isso, ele foi SONHADO com todas as letras em maiúsculo. Como um típica canceriana, a vida inteira me imaginei casada e com a casa cheia de filhos. Depois de algum tempo, Deus me concedeu a dádiva e a missão de gerar o meu tão sonhado filho, que tinha como data provável de chegada o dia 18 de abril de 2017. A gravidez me trouxe uma alegria e uma emoção enorme, mas me trouxe medo também. Tive medo de perdê-lo, medo de que ele antecipasse, de que atrasasse, medo de que algo ruim acontecesse comigo, com o pai. Apeguei-me a Nossa Senhora de tal jeito que só me sentia verdadeiramente segura quando rezava a novena para mulheres grávidas, algo que fiz ininterruptamente durante todos as noites das quarenta semanas em que carreguei meu filho no ventre. Quando eu estava com mais ou menos 10 semanas de gestação, vi um post no Facebook sobre mulheres que sofreram abuso médico durante o parto e o comentário de uma doula me chamou a atenção. Imediatamente entrei em contato e ela foi maravilhosa comigo! Esclareceu várias dúvidas sobre o parto humanizado realizado nos EUA (país em que vivo), me sugeriu a leitura do livro "Parto Ativo" e me encorajou a procurar uma doula brasileira em Nova Jersey, já que ela morava no Texas e obviamente não poderia estar presente no dia do nascimento do meu filho.
Bastou uma simples busca no Google para que eu encontrasse o site de duas doulas brasileiras que trabalhavam juntas e estavam perto da minha cidade. Entrei em contato e o nosso primeiro encontro numa roda de mulheres foi de "empatia à primeira vista". Desde então elas passaram a me acompanhar e a cada conversa nossa eu tinha mais certeza de que o parto natural era possível e que eu iria me preparar ao máximo para que isso acontecesse. A leitura do livro "Parto Ativo" me emocionou e me encorajou muito. A cada página lida eu me convencia de que, com raríssimas exceções, a maioria das mulheres (que assim optassem) poderiam passar pela experiência do parto natural. Tive o apoio incondicional do meu marido em relação à minha decisão. Somente ele e minhas doulas sabiam da minha intenção, já que eu tinha certeza de que a maioria das pessoas iriam me desencorajar e eu, definitivamente, não estava a fim de convencer ninguém a respeito disso. No entanto, sempre deixei muito claro que o que era bom para o meu filho seria bom para mim. Eu JAMAIS colocaria em risco a vida ou a saúde dele. A gestação correu de maneira relativamente tranquila até os 7 meses, quando descobri que estava com diabete gestacional em fase inicial. Apesar de ficar bem chateada e impactada com a notícia, controlei minhas taxas de glicose já nas primeiras semanas somente melhorando minha alimentação e fazendo caminhadas de 20 minutos todos os dias. Fiz aulas semanais de yoga e também sessões de acupuntura para aliviar o stress e a ansiedade. E depois de nove longos meses, abril chegou e chegou lindo...Sentia as contrações de treino e, como mãe de primeira viagem, ficava me perguntando se saberia distinguir as de treino das contrações reais (são inconfundíveis, a propósito! Rs). A data provável do parto era o dia 18 e na madrugada do dia 19 comecei a sentir contrações mais fortes do que estava acostumada exatamente às duas horas e seis minutos da madrugada. Acompanhei sozinha os primeiros quarenta minutos de contrações regulares para só então acordar o meu marido. Eu sentia que era o dia de conhecer o nosso tão sonhado filho. Além do meu marido, estava aqui em casa uma prima muito querida e amiga, que veio especialmente do Brasil para cuidar de mim e da gente nas primeiras semanas pós parto. Minha doula chegou em minha casa por volta das cinco da manhã. Passei um bom tempo no chuveiro, fiz exercícios de respiração, recebi massagem e tanto carinho que apesar das contrações chegarem cada vez mais fortes e em intervalos mais curtos eu me sentia inteiramente acolhida e segura. Chegamos ao hospital por volta das sete e meia da manhã e logo depois de verificarem que eu já estava com 8 centímetros de dilatação me perguntaram se eu queria a anestesia. Respondi prontamente que não. A dor era grande, mas suportável, e eu estava firme e forte. Sabia que o meu filho estava bem. Passei a manhã fazendo caminhadas no hospital, mais exercícios de respiração, recebi a aplicação de óleos essenciais, acupressão, massagens...Minha doula Debby é uma profissional de primeira, um verdadeiro anjo! O momento do expulsivo se aproximava e as contrações tomaram um ritmo cada vez mais forte. Eu tentava me conectar com o meu filho, porém muitas vezes eu pensei que não daria conta. Não vou mentir, o período que antecede o expulsivo é muito intenso, a dor é enorme, surreal. Cheguei a pedir pela anestesia nessa hora, mas não tinha mais jeito, ou melhor, não tinha mais tempo pra isso. Meu filho estava nascendo e eu precisava ser forte para ajudá-lo a vir ao mundo. Vendo a minha aflição, minha doula sugeriu que rezássemos juntos e assim fizemos de mãos dadas...Eu, ela e meu marido. Foi um momento muito forte e especial. Em prantos, supliquei a Deus e à Nossa Senhora que me ajudassem. Pedi aos meus pais (já falecidos) que estivessem comigo e me dessem força para conseguir dar à luz ao meu filho. Apesar de me sentir absolutamente exausta, eu sabia que faltava muito pouco para conhecer o André. Sentia a pressão que ele fazia para sair. Sabia que precisávamos trabalhar juntos para isso. Meu marido estava incansável ao meu lado. Nunca o vi tão emocionado e conectado. A cada grito de dor, eu ouvia dele: "meu amor, nosso André está vindo. Respira fundo, respira pra baixo, se concentra"! E assim fui fazendo até sentir uma força enorme, uma sensação de outro mundo. Por mais que eu tente, não conseguiria descrever a sensação que é sentir o seu filho coroando. Meu marido chorava copiosamente e eu, tomada pelo cansaço, só consegui perguntar se estava tudo bem com o André. Peguei ele nos braços como se não acreditasse que eu tinha dado conta. Repetia para mim mesma: não acredito que consegui! Aquele dia foi, de longe, o dia MAIS FELIZ da minha vida. Meu filho nasceu da forma mais natural possível, sem anestesia, sem uso do fórceps nem episiotomia. O nosso corpo é uma máquina incrível! Ao meio dia e cinquenta e dois minutos do dia 19 de abril de 2017 me tornei a mãe do André. Ele era o trenzinho mais lindo, forte e cabeludinho do mundo! Chegou chorando e já procurando pelo meu peito. Fecho os olhos e posso me lembrar de cada instante, de cada sensação vivenciada naquela manhã. Senti uma imensa gratidão à Deus e à Nossa Senhora. Meu parto foi perfeito do ponto de vista médico e aos meus olhos também. Lembro que passados os momentos de dor intensa, a enfermeira me disse que eu esqueceria da dor em algumas semanas. Logo a contestei e disse que isso era impossível! E não é que ela tinha razão? É incrível como a gente não consegue mais lembrar da dor! Na semana seguinte, eu e meu marido assistimos juntos o vídeo do parto e eu senti uma saudade imensa daquele dia! Uma saudade de fazer chorar...de querer reviver cada momento daquela linda manhã de primavera.
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